sábado, 23 de julho de 2011

Um Ensaio Sobre Lúcifer (parte 1)






Este é o post que com certeza causará certa polémica entre muitos denominados “wiccanos”. Isso porque actualmente vem sendo distorcida a Arte, a ponto de alguns segmentos parecer um cristianismo New Age apenas substituindo o deus pela deusa. O paganismo resume a utilização de alguns deuses e deusas, cujas essências não são bem conhecidas acabando por serem modificadas, tornando-os seres absolutamente bondosos. Mas apesar disto tudo, ainda há segmentos dignos de crédito e atenção.

Principalmente alguns wiccanos aceitam como verdadeiro o escrito de Charles Leland1 acreditam em Lúcifer como sendo o Deus do Sol e da Lua, o irmão de Diana, por quem a Deusa se apaixona. Esta ideia está contida na frase abaixo, retirada do livro mencionado: «Diana amou tão intensamente o seu irmão Lúcifer, o Deus do Sol e da Lua, o Deus da Luz...».

É deste acto de incesto nasce Aradia, Bruxa italiana trazendo então à Terra os ensinamentos da Bruxaria da Mãe. Muitos contestam esta versão do autor, alegando ser Lúcifer a influência do cristianismo, embora os defensores afirmem, o Lúcifer mencionado aqui não é o cristão, mas novamente o Deus romano. Na versão Aridiana2, Lúcifer não está presente e nem Diana é considerada como sendo a Mãe de Aradia. São duas versões envolvendo a mesma personagem lendária italiana, cabendo a cada interessado aceitar a mais lhe parecer verdadeira.

Desta forma, vamos dar a visão mais límpida desta deidade controversa perante o dogmatismo clerical.


Porquê Lúcifer? Na astronomia romana, Lúcifer era o nome dado à estrela matutina (a estrela conhecida por outro nome romano, Vénus). A estrela matutina aparece nos céus logo antes amanhecer, anunciando o Sol ascendente. O nome deriva do lucem ferre do termo latino, o que traz, ou porta a Luz. No texto hebraico a expressão descreve o rei babilónico antes da morte dele é Helal, filho de Shahar pode ser melhor traduzido como “estrela do Dia, o filho do Amanhecer”. O nome evoca o resplendor dourado do vestido de um rei orgulhoso e cortês (muito como o esplendor pessoal do Rei Luis XIV de França com o título de “O Rei Sol”).

Antes da igreja romana ter degenerado o nome do, depois arcanjo, Lúcifer, este tinha conotação positiva. Era o Portador da Luz. Os gregos chamaram-lhe Fósforos ou Eósforos, i.e., o planeta Vénus portadora da Luz do dia. Na Roma, Diana (Artémis), a Deusa lunar, chamou-se Lucífera, a Portadora da Luz. O nome de Lúcifer foi utilizado pelos primeiros cristãos para designar Cristo, a “Luz do mundo”, qualificado depois de Lucifer matutinus ou de Lucifer qui nescit occasum (a Luz ignorante do declínio). No Apocalipse, (II, 8; XXXII, 16), Jesus dava a si mesmo o nome de “Estrela da Manhã” e designa também sob essa designação o Espírito Santo.

Também o “Grande Arquiteto do Universo” está evidentemente aparentado com a “primeira causa” ou “primeiro motor” de Aristóteles, sem relação com o Deus pessoal da Bíblia, revelado em carne na pessoa de Jesus de Nazaré, a quem, naturalmente, não se lhe reconhece como Unigénito Filho de Deus, senão como o dos muitos “iluminados” contribuíram benefícios espirituais à humanidade. Jesus de Nazaré é para a Maçonaria o “portador da tocha”, juntamente com outros, Lúcifer, como seu próprio nome indica3.

Como vimos, Lúcifer vem do latim, lux+ferre e é denominado muitas vezes, como sendo a Estrela da Manhã. A primeira representação, adopta este nome na Roma Antiga, onde originalmente era utilizado para denominar o planeta Vénus quando anunciava a poente o nascer do Sol. Porém esta ideia de um Deus da Luz associado com a Estrela da Manhã ao invés da Aurora data de época muito mais remota, sendo utilizada por Sócrates e Platão. Segundo a Edith Hamilton, Mythology, encontramos nesta ideia de Deus da Luz que estava justaposto com Hélios e Hermes.



1 Aradia the Gospel of the Witches
2 Proveniente da vila de Arida – dizem que a maior parte dos discípulos de Aradia vieram desta localidade no centro da Itália. A maioria dos praticantes modernos da Stregaria segue essa tradição. A maioria dos ritos desta apostilha é Aridianos.
3 O verdadeiro mação não tem inclinação para credo algum. Se percebe d a iluminação divina na Loja conduzindo-o para a religião universal: Cristo, Buda ou Maomé – o nome importa muito pouco – são portadores da luz e isto é o importante, não quem a leva. Pode adorar-se em qualquer santuário, postrar-se no altar, seja templo, mesquita, sinagoga ou catedral, pois o mação, com superior conhecimento, compreende a unidade de toda verdade espiritual.

Um comentário:

  1. Olá amigo... Parabéns pelo ensaio. Particularmente, não acho que nenhuma dessas interpretações sejam errôneas ou equivocadas, assumindo a possibilidade de que todos os deuses, seus nomes, suas atribuições e seus aspectos passam por trânsitos alegóricos, que simplesmente se transformam ao longo do tempo... O Lúcifer de alguns milênios atrás pode ter poucas relações com o neopagão de hoje (assumindo, claro, as possibilidades de permanências e longaduração).

    Mas me diga uma coisa, fiquei curioso com um recente comentário no blog Diannus do Nemi. Pq vc tem os pés atrás com o blog? rsrs

    Acho super válido ouvir críticas negativas, todas elas contribuem para o crescimento.

    Abraços

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